O rádio como instrumento de diálogo
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O rádio deve manter a sua essência, a proximidade com o ouvinte, o olhar para as diferentes opiniões e a verificação dos fatos, mesmo quando inserido nas plataformas digitais.
Por Fernanda Nardo.
O rádio sempre foi por excelência um instrumento de diálogo, aquele amigo próximo e atento às demandas dos ouvintes, que promove o bom debate e fornece interlocução. No entanto, não podemos descartar que vivemos em um momento em que o meio digital, por meio dos algoritmos, uniu seus iguais em bolhas, que contribuem para o aumento da polarização, o que dificulta o debate social. Neste contexto, o rádio, mesmo no meio digital, não pode se esquecer do seu caráter humano, seu compromisso com a informação de qualidade e com o olhar para as diferentes opiniões.
“A atualização em relação às tecnologias, a presença em redes sociais, o conteúdo multimídia, são importantes para uma emissora, mas isso não irá superar tanto o caráter humano e próximo do rádio quanto o compromisso com o público e com a verificação e clareza das informações”, destaca a pesquisadora da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), Débora Cristina Lopez.
De acordo com a pesquisadora, não adianta estar em diversos espaços digitais e apenas replicar os conteúdos. Para ela, é muito mais importante a emissora conhecer o perfil do seu público e a partir disso pensar quais são os espaços que deve ocupar. “É muito melhor quando estou em uma rede social e interajo com a minha audiência, do que quando estou em várias plataformas e não converso com ninguém. Aí eu esqueço o que é essencial do rádio: o diálogo e a proximidade com o público”, destaca.
O rádio neste contexto das plataformas de redes sociais ainda vive um desafio, o qual exige adaptação e aprendizagem sobre as novas maneiras de comunicar, afinal o meio digital é muito fluido e os conteúdos são adaptados de acordo com a forma que a audiência se apropria deles. Para Débora é importante estar atento a essas mudanças e ver o que conversa com o meio rádio ou não.
“O rádio mantém a sua essência sonora, próxima do ouvinte, de relação com os conteúdos regional e cultural, é importante pensarmos que essa proximidade que marca o rádio desde sua criação deve ser mantida quando ele se insere, também, nas plataformas digitais”, ressalta a pesquisadora.
Rádio: ferramenta democrática de reflexão
Para o pesquisador e coordenador do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Luiz Artur Ferraretto, o rádio precisa dar espaço para a divergência de opiniões, e fugir da ideia de bolhas, muito utilizadas no meio digital. “O maior perigo para o rádio é entrar no jogo das bolhas. O mais correto é ter certo distanciamento e dar voz às forças representativas, para que elas possam debater”, destaca.
Para Ferraretto, quando o rádio passa a ser levado pelas plataformas de redes sociais, fica dependente de algo que não tem controle, e que não vai render ouvintes e anunciantes. Para ele, é fundamental que o comunicador deixe claro quando declara sua opinião, que deve ser embasada, e que não deve soar como descrição de fatos. “Existem casos em que a posição das pessoas na rádio exacerba-se tanto, que rende mais para a promoção pessoal do que para a emissora, que inclusive, pode até perder ouvintes”.
Estamos em um momento polarizado, e por isso, é preciso que o comunicador ouça as pessoas e todos os lados do fato, mostre caminhos e deixe que o ouvinte escolha qual caminho seguir ou não. Ferraretto destaca que algumas emissoras se submeteram à lógica das bolhas das redes sociais e se esqueceram de fazer rádio.
“Neste caso, elas precisam voltar a fazer rádio, que é conversar com as pessoas, ouvir vários pontos de vista. O rádio é a ferramenta mais barata para promover o debate e a reflexão. Se o ouvinte recebe vários pontos de vista relevantes, se tornará um cidadão melhor e influenciará o debate público no seu entorno”, destaca o pesquisador.
Para Débora, como comunicadores é preciso expandir o nosso olhar, abraçar o controverso, no sentido de contrapor, inclusive, visões que são diferentes da nossa.
”Mais do que nunca o rádio precisa escutar. Em busca de humanização em um cenário tão duro no qual estamos vivendo, com tanta desinformação e polarização. Acredito no caminho que o rádio sempre percorreu, da proximidade com a audiência, de entender suas necessidades, seu contexto, e o que eu devo como comunicador falar para essa audiência”, destaca.
A pesquisadora defende um segundo caminho, que é o da verificação dos fatos e informações. “A maneira coloquial e a oralidade do rádio levam uma carga de verdade para aquilo que a gente diz que é muito grande, seu impacto é muito intenso. Principalmente quando a gente vai para cidades de interior, ou comunicação de nicho, onde as pessoas se identificam com os comunicadores. O rádio é um veículo de alta confiabilidade, isso faz com que os radialistas tenham um comprometimento maior”, diz Débora.
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