Vivemos a Era Áudio?
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Experiências radiofônicas, além da notícia e da música, ganham espaço nas plataformas de streaming e nas rádios. Esse movimento contribui para o áudio reafirmar sua força, tanto nas produções sonoras quanto multimídias.
Por Fernanda Nardo.
Não há como negar: o áudio está reforçando o seu protagonismo. Quem acredita que o tempo das radionovelas ficou no passado, desde a transmissão da primeira produção no Brasil entre 1941 e 1943, está enganado. Agora, séries de ficção e outras baseadas em fatos reais, revivem a era das radionovelas, nas plataformas de streaming e, também, mais recentemente no rádio. Com roupagem nova, são batizadas atualmente como audiosséries, audiodramas, peças radiofônicas ou como podcasts de ficção e storytelling.
As plataformas de redes sociais também entraram na onda do áudio. Já é comum também a comunicação por voz no WhatsApp, Telegram e outros aplicativos, mas agora as plataformas apostam em novos recursos de interações de voz, em busca de maior proximidade entre os usuários. A força do áudio invadiu, inclusive, as plataformas de vídeo. Um exemplo é a série Calls da Apple TV+, que tem o áudio como protagonista, fornecendo uma experiência imersiva e bem diferente do que a audiência está acostumada. Será que pode-se afirmar que a sociedade está vivendo a Era do Áudio? E será que a tendência veio para ficar?
“Acredito que estamos realmente na Era do áudio, porque a gente entra em um jornal na internet e tem um botão para ouvir a reportagem, vemos jornais, revistas e emissoras de televisão produzindo podcast, e acredito que o rádio precisa se tornar o principal protagonista dessa nova Era, ele tem a expertise necessária para produzir áudio”, afirma o jornalista, escritor e professor de rádio da UFRGS, Luiz Artur Ferraretto.
Já a pesquisadora da Universidade Federal de Ouro Preto, Debora Cristina Lopez, diz que prefere não falar que estamos vivendo uma era do áudio. “Mas sim, que ele reassume seu protagonismo, porque não necessariamente essa Era precisa acabar. Percebo que o áudio está retomando sua força, tanto nas produções sonoras quanto multimídias”.
Esse movimento da diversificação e da força atual do áudio vem conquistando um público cada vez maior e mais diversificado. Sendo assim, é necessário estar atento às mudanças nas formas de consumir áudio. Hoje, vivemos um momento específico de consumo semi-individual, no qual o indivíduo consome sozinho, mas compartilha pelas redes sociais ou plataformas digitais.
“Essa integração do espaço ocupado pela audiência também fez com que o consumo de áudio e de rádio crescesse. Por isso, é essencial construir conteúdos pensados nas dinâmicas e relações estabelecidas no mundo digital, essa pra mim é a chave que levou a uma retomada do protagonismo do rádio. Se deixarmos de trabalhar para esse público, aí sim, o áudio perderá seu protagonismo”, diz Débora.
Maneiras criativas de conquistar o público
O crescimento do áudio e das produções de audiosséries, peças radiofônicas e storytelling, vêm sendo notado internacionalmente e, com a pandemia, ganhou ainda mais força. “Esse crescimento do entretenimento ficcional veio na esteira do aumento mundial do consumo de áudio”, explica a pesquisadora.
Não há como negar que o crescimento do podcast possibilitou o investimento de estruturas narrativas mais complexas, o que despertou o interesse das rádios em investir em ficção e em conteúdos específicos. “O rádio tem muito a aprender com essa retomada, é um mercado que está se abrindo e que fala ao cotidiano. Antes acreditávamos que esses produtos não teriam espaço na audiência do rádio, mas hoje sabemos que tem”, afirma Débora.
No meio radiofônico é possível falar sobre temas sérios de uma maneira mais leve, usando a criatividade e resgatando os recursos da dramaturgia, inserindo pautas jornalísticas e de utilidade pública. Por exemplo, é possível utilizar as informações referentes à pandemia, fazendo pílulas de áudio drama.
“Esses materiais irão falar de maneira mais fácil com o público, do que as matérias padrão. É uma estratégia para as rádios tanto na aproximação com o ouvinte, quanto para cumprir uma das suas funções, que envolve o auxílio da população na compreensão das situações”, destaca.
Ferraretto acrescenta que existe um espaço grande para as dramaturgias sonoras que estão sendo retomadas pelos podcasts, principalmente, porque as pessoas têm pouco tempo, e quando recebem um áudio, elas conseguem assimilar esses conteúdos enquanto desenvolvem outras atividades.
“Elas estão sendo retomadas com uma linguagem modernizada, com temáticas novas e utilizando recursos do radiojornalismo. Acho importante essa retomada da dramaturgia, inclusive, pela valorização da linguagem sonora, efeito sonoro, da música e da pontuação de uma trilha. Isso envolve uma técnica que estava esquecida, é importante retomá-las e isso pode ter repercussões no dia a dia das emissoras. Falta nesse momento, uma formação adequada para esse tipo de conteúdo”, explica.
Revivendo uma antiga tradição, mas com novos recursos
A Rádio Inconfidência de Belo Horizonte, que opera nos canais AM 880, FM 100,9 e Ondas Curtas 6010, já vinha apostando em novas experiências radiofônicas antes da pandemia. Com a Covid, e todas as consequências do isolamento, eles convidaram o Grupo Galpão para pensar uma peça de teatro exclusiva para o rádio, e assim nasceu a peça radiofônica: “Quer ver Escuta”, que foi ao ar neste mês.
“Foi uma experiência gratificante, além de retomar uma tradição antiga da rádio, tivemos a oportunidade de trabalhar com esse grupo maravilhoso, e transmitindo em primeira mão na nossa emissora”, ressalta a gerente artística, apresentadora e programadora da rádio, Waleska Falci.
Para Waleska, as rádios estão aprendendo e ganhando muito com a questão multimídia e com a criação de novas experiências sonoras. “Dialogar nas diversas possibilidades de transmissão é muito positivo, levou a nossa programação para o mundo inteiro. A força do rádio é muito grande, só temos que acreditar nela, aprender e adaptar as novidades para esse veículo tão potente”, afirma.
O rádio tem outro diferencial, ele é um veículo gratuito que amplia o acesso, diferente das plataformas de streaming. “Essa liberdade da pessoa entrar e ouvir no momento que ela quer, sem precisar colocar um login, sem vincular um pagamento, é uma coisa muito importante a se pensar, o que abre novas possibilidades de transmissões. Por isso, pretendemos investir mais em novos produtos, levando o público a uma viagem ao universo sonoro”, diz a gerente artística.
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