Pandemia acelera o consumo de podcast no Brasil

Pandemia acelera o consumo de podcast no Brasil

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Estudo mostra a força do áudio e a conexão que ele cria com o público, inclusive, quando se executa outras atividades paralelamente. Maior liberdade de duração e diferentes formatos também são relevantes neste aumento.

Por Fernanda Nardo.


A pandemia acelerou o crescimento do consumo de podcasts no país, já que quase 6 em cada 10 ouvintes começaram a utilizar o formato durante o isolamento, segundo um estudo realizado pela Globo. A pesquisa mostra que 57% dos entrevistados começaram a ouvir podcasts neste período e a principal porta de entrada para o formato é a busca por conteúdo sobre algum assunto de interesse. A pesquisa foi feita entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021.

Assim como o rádio, o consumo de podcasts se dá, em grande parte, junto a outras atividades do dia, por isso ele assume um caráter de produtividade e aproveitamento do tempo para seus ouvintes. Neste momento, não é só o conteúdo digital que é importante, mas o conteúdo em si, e o digital acaba oferecendo ferramentas e plataformas para criação destes conteúdos, além da disseminação dos mesmos.

“As rádios são essencialmente produtoras de conteúdo, então podem aproveitar este momento para avaliar novos formatos, ampliar seu alcance e conquistar novos públicos. Além disso, observar as tendências no digital oferece muitos insights de comportamento, da linguagem dos diferentes públicos, e pode ser uma fonte de referências para alimentar os conteúdos das diversas plataformas, inclusive da programação tradicional”, diz a estrategista digital, Caro Sartor.

Podcast é uma escolha interessante para as rádios, no entanto, muitas ainda não percebem essa oportunidade. Primeiro, é preciso que a emissora entenda por que ter um podcast: que resultados poderia trazer, que públicos pode agregar, que temas seriam interessantes?

“Isso vai dimensionar o peso que devem dar a este formato e, ao mesmo tempo, trazer ideias de quais seriam as melhores abordagens. Também é um teste para ver se a iniciativa consegue perdurar com ganhos para a rádio”, diz Caro.

Os resultados no ambiente digital vão depender de vários fatores: momento, contexto, boas práticas, oportunidades. Quando falamos sobre a internet, não estamos falando de um lugar, mas de um movimento. 

“Por isso, é essencial compreender a amplitude deste movimento e se aprofundar no seu funcionamento. Também é necessário um planejamento a partir destes aprendizados: entender os porquês de cada plataforma e formato, seus objetivos e mapear como será a execução. E por último, acompanhar cada ação, medindo seus resultados e mudando a rota quando necessário”, destaca a estrategista.

Podcast e a proximidade com a rádio AM

Quem ainda não ouviu falar do Caso Evandro? Trata-se de podcast baseado em um formato ainda pouco explorado no Brasil, o storytelling. É como se fosse um documentário em formato de áudio e distribuído na internet. Idealizado pelo professor e escritor, Ivan Mizanzuk, o projeto foi transformado recentemente em uma série televisiva pela Globo Play. 

O programa conta a história do menino Evandro Ramos Caetano, de apenas 6 anos de idade, que desaparece, em Guaratuba, Paraná, em 06 de abril de 1992. Quem era criança naquela época deve se lembrar e temer “as bruxas de Guaratuba”. Conversamos com Mizanzuk, para saber como ele começou, já em 2011, a apostar em podcast e sua opinião sobre esse formato que está conquistando o coração dos brasileiros. 

“Sempre ouvi muito podcast dos Estados Unidos, lá eles têm essa cultura que vem desde a rádio pública, na década de 90, principalmente de fazer o que alguns chamam de filmes para se ouvir, uma espécie de jornalismo narrativo, focado em construir histórias através do áudio. Não é simplesmente você dar a notícia, é procurar personagens que vivem aquilo e construir uma narrativa a partir disso. Inspirado em produções que seguem esse formato, eu construí o Caso Evandro”, destaca.

Para ele, o podcast proporciona uma liberdade maior e mais possibilidades de explorar as diversas linguagens. Afinal, quando você não tem grade, não precisa fazer minutos de áudio que encaixem certinho naquele bloco. É fato, há público para tudo, em diferentes meios, mas determinados conteúdos se adequam melhor ao podcast, pelo que o formato proporciona. O próprio Caso Evandro são 36 episódios, mais dois extras. Tem episódio que tem 50 minutos, tem episódio que tem 2 horas e meia.

“Então só de você pensar em como encaixar isso na programação de uma rádio já complica. O Caso Evandro é um podcast cheio de detalhes, é muito comum o pessoal ter que pausar, voltar, ouvir de novo. A rádio já não permite isso. Antigamente, existia a radionovela, mas hoje em dia existem muitas outras linguagens. Eu não duvido que o rádio ainda vai se reinventar. É esperar para ver”.

Para ele, a cultura do rádio AM tem uma proximidade grande com o podcast, principalmente, as primeiras produções do formato. “Aquele locutor mais local conversando com alguém na cidade, recebendo ligação de madrugada e trocando histórias, experiências, uma coisa mais informal do que grandes rádios FM. Nesse sentido, existe uma relação de proximidade entre a cultura da rádio AM com o podcast mais falado, mais conversado”, diz.

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